Um texto de Leonardo Boff

Fotografei Severino em Manaus, 2007, antes que ele me conduzisse pelos rios.

“Ouvi na Alemanha, nos meus tempos de estudante, uma pequena história que não é uma fábula, mas um fato verdadeiro. (…) Certa feita, um camponês capturou um filhote de águia. Criou-o em casa com as galinhas. A águia se transformou aparentemente numa galinha. Um dia o camponês recebeu a visita de um naturalista que conhecia os hábitos das águias. Este disse: – A águia não cisca o chão como as galinhas. Ela é chamada a voar alto e estar acima das montanhas.
O camponês retrucou: – Mas ela virou galinha. Já não voa mais.
Disse-lhe o naturalista: – Ela não voa agora, mas ela tem dentro do peito e nos olhos a direção do sol e o chamado das alturas. Ela vai voar.
Certa manhã os dois foram bem cedo ao alto da montanha. O sol nascia. O naturalista segurou a águia firme, com os olhos voltados para o sol. E então lançou-a para o alto. E a águia, transformada em galinha, despertou em seu ser de águia. Ergueu vôo. Ziguezagueante no começo, depois firme, sempre mais alto e mais alto, até desaparecer no infinito do céu matinal.

Companheiros e companheiras de sonho e de esperança: dentro de cada um de nós vive uma águia. Nossa cultura e os sistemas de domesticação nos transformaram em galinhas que ciscam o chão. Mas nós temos a vocação para o alto, para o infinito. Libertemos a águia que se esconde em nós. Não permitamos que nos condenem à mediocridade. Façamos o vôo da libertação. E arrastemos outros conosco, porque todos escondemos uma águia em nós. Todos somos águias”

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