Eu e o Futebol

Eu era uma pequena menina, meu pai comprou uma televisão em preto e branco, era o ano de 1970 e iríamos assistir a "Copa de 70". Ali, vi pela primeira vez o futebol, aprendi que ele vinha da Inglaterra, meu pai falou-nos de Charles Miller e em seguida descobri que era gremista. Fui rebatizada gremista portanto, camisa que pela honra jamais deveria abandonar, vira-casacas seriam banidas. Fui alertada que o inimigo era o "Colorado" em quase qualquer circunstância. Quase porque não seria pecado torcer pelo Inter em caso de final mundial de times, mas nada de entusiasmo, ok? Pelo Grêmio, sempre, sempre, sempre, até a pé...
A infância removia qualquer filtro e via festa em todo acontecimento futebolístico: o Brasil torcia e eu também... A massa ia, e eu moldava-me...
Depois, veio a adolescência e descobri que o futebol é uma guerra. Através dele, derrotava meus oponentes, a vizinha colorada, ah, a vingança... E descobria novos motivos para chorar o choro longo que as adolescentes tanto apreciam (1982, final do brasileiro: Grêmio 0 x Flamengo 1). Uma vontade dolorida e comprida de não ir para a escola. A vingança viria em 89, com os 6x1 do Grêmio contra o mesmo Flamengo, mas então meus sonhos já vagueavam por outras pradarias...
Descobria meus lindos craques, o Renato Gaúcho, que as mulheres todas têm um fraco, o Leão, depois vieram outros times, o Dudamel da Venezuela... Aprendi o que é um homem bonito assistindo futebol. Acho que foi minha mãe quem me ensinou a observar atentamente as pernas dos jogadores e outros predicativos, claro.
A fase adulta matou meu futebol, foi quando desviei a poesia para a literatura, a arte para a fotografia e o sonho para outras esferas, várias, menos palpáveis ainda que o futebol. Vieram homens de cartola e desarticularam meus sonhos de criança, e hoje o ídolo é um cara com um cabelo horrível, e um outro magricelo e não tem mais ninguém com o charme do Cerezzo e dos outros craques posando para a foto. Tem o Kaká, menos devasso ainda que a Sandy...
Resistirei mais um ou dois anos antes da definitiva decisão que será sentida por todo o universo futebolístico: abandonar o futebol. Creio que não sairá nos jornais.

Na estampa, retirada do blog hannabarberashowparte2.blogspot.com, a primeira forma de contato que tive com o mundo do futebol: eu e Ana colecionávamos figurinhas, preenchendo o álbum, beijando as estampas dos nossos heróis e esbofeteando nossos oponentes...

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