O Pintor de Batalhas

O Pintor de Batalhas é um livro curioso. Amor, guerra e arte.
É a trama da dor da guerra que amarra esta ficção, escrita pelo ex-fotógrafo Arturo Pérez-Reverte.
É um bom livro, mas não é envolvente. É cansativo e previsível.
Quem fotografa a algum tempo, e especialmente acompanha obras e publicações relacionadas à arte e à fotografia, vai encontrar uma colagen interessante de dados, fatos e teorias que vimos aqui e acolá. Cézanne, Goya, Susan Sontag.
Há um bom trabalho de pesquisa relacionado às artes plásticas e à teoria das imagens de guerra. Entretanto, no que diz respeito à arte, não soa natural, não flui no romance: parece mais uma colagem de pesquisa.

Andrés Faulques não esquece sua amada Olvido Ferrara, que morreu na guerra, vítima de uma mina, assim como Robert Cappa. Ivo Markovic, o croata, fica famoso após a foto feita por Faulques, mas quer matá-lo por não deixar esquecer.
Faulques abandona as fotografias de guerra e vai viver isolado, pintando um grande mural sobre guerras.
Ficamos buscando onde está a força do romance. A história de amor não seduz. Ele considera a amada superior a ele em tudo: sexo, beleza, juventude, atrevimento. Dá-nos a entender que ela está de férias na guerra, que está lá para morrer (como de fato), e que ele sim é o trabalhador. E que se livrará daquilo tudo assim que puder. Quando ela morre, ele se auto-exila, e fica até o curto resto da vida lembrando não do grande amor, mas da grande admiração, que vivera por Olvido Ferrara. E se culpa, também ele ruma para o fim.
As histórias das fotos que Faulques faz também não interessam: o vídeo d'Os Fotógrafos da National Geographic é bem mais interessante. Alguma categoria masculina talvez se interesse pelos relatos das fotografias: mas creio que não. Tem pouco sangue correndo, inclusive. Falta paixão na maioria das descrições. Tem trechos que deixam-nos na dúvida sobre a fidelidade da tradução: será que ele escreveu uma coisa tão inconsistente...? Os diálogos da página 178, para citar um exemplo, são precários. Em outro ponto, (p. 146) lugares comuns, como 'as paredes pintadas pareciam envolvê-lo como fantasmas'. Figuras de linguagem banais.
O andamento da história, com a trama da vingança do croata tampouco desenvolve. O croata é inconveniente, abusado, inconsistente intelectualmente, arrogante e pedante. Faltam-lhes as verdadeiras características do vingativo, do assassino: não é ardiloso, não conhece a forma de pensar do seu inimigo, sequer sente inimizade por aquele que planeja matar.
Por que ler o livro? Tem um fio condutor filosófico que vale a pena. Fala das leis do acaso (p.169). E quando ele diz: "Fotografar não o homem, mas seu rastro" (p. 156). Mas são absolutamente pessoais, creio. Na página 220, há uma citação quase literal de Susan Sontag: "A Violência Transforma a Pessoa que a Sofre em Coisa.". E Sontag escreveu:"A Violência transforma em coisa toda pessoa sujeita a ela." A citação está quase ipsis literis, está lá! Incomoda porque parece que a idéia é dele, do autor...
Coisas que gostei:
"Há Certos Lugares dos quais a Gente Nunca Volta." (p. 59)
"A Noite Voa. E nos Escapa em Prantos." (p.144)
Estou agora terminando a leitura do "Cartier-Bresson O Olhar do Século", de Pierre Assouline. Apesar da infinita admiração que tenho pelo fotógrafo genial que foi Bresson, não gostei também deste livro, que é explicitamente de um admirador.
Então, de que gosto?
Leiam "O Mulo", de Darcy Ribeiro, ou "Mayra", do mesmo autor. O 'Mulo' é tão alma e tão carne que até dói comentar... Na próxima, vai.

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